O caso das máscaras de chumbo

Passados mais de 50 anos da misteriosa morte de Manoel Pereira da Cruz e Miguel José Viana, ainda permanece um enigma longe de ser resolvido. O incidente, conhecido como “O caso das máscaras de chumbo”, aconteceu no dia 17 de agosto de 1966, e a polícia chegou até a considerar que as mortes teriam sido causadas por forças sobrenaturais.

Será? O que realmente teria acontecido com o dois amigos naquele trágico dia?


O caso das máscaras de chumbo, Rio de Janeiro 17 de agosto de 1966.
A história começa quando Paulo Cordeiro Azevedo dos Santos, 18 anos, encontrou os corpos dos dois homens enquanto empinava pipa no Morro do Vintém, no Bairro de Santa Rosa, em Niterói no Rio de Janeiro. Ele avisou o guarda Antônio Guerra, que servia na radiopatrulha, porém o policial só foi até lá dois dias depois. É possível que o guarda ou outra pessoa tenha revistado os cadáveres para se apropriar de objetos de valor, mas isso não foi comprovado.

No sábado (20), a Segunda Delegacia de Polícia de Niterói recebeu nova denúncia sobre dois corpos, e foram feitos preparativos para ir até lá averiguar.

Os corpos foram encontrados sem sinais de violência, vestindo ternos e capas impermeáveis. Perto dos corpos, a polícia encontrou uma garrafa de água mineral magnesiana, uma folha de papel laminado que foi usada como copo e um pacote com duas toalhas. O que realmente chamou a atenção de quem estava no local, foram as máscaras de chumbo usadas pelos dois homens. Eram máscaras usadas tipicamente para proteção contra radiação. Para complicar ainda mais este estranho incidente, a polícia achou um bloco de anotações com símbolos e números (notadamente códigos de referência para válvulas eletrônicas) e também uma carta com as seguintes instruções:

16:30Hs. está local determinado. 18:30Hs. ingerir capsúla após efeito, proteger metais aguardar sinal máscara.
Investigação

Durante o inquérito, os investigadores de polícia reconstituíram uma narrativa plausível dos últimos dias dos dois homens. Na quarta-feira 17 de agosto de 1966, eles partiram da cidade onde residiam, Campos dos Goytacazes, no interior do estado do Rio de Janeiro, próximo da divisa com o estado do Espírito Santo, tendo dito às respectivas esposas que iam a São Paulo comprar material de trabalho e um automóvel usado, para isso eles portavam cerca de dois milhões e trezentos mil cruzeiros (aproximadamente 25 mil reais em valores atuais) durante a viagem. Manoel e Miguel eram colegas de trabalho e amigos de longa data. Os dois moravam próximos e mantinham uma sociedade em uma pequena oficina que oferecia serviços de manutenção em aparelhos eletrônicos, sobretudo rádios e televisões.

O caso das máscaras de chumbo, Rio de Janeiro 17 de agosto de 1966.
Na quarta-feira, às 09:00 hs, eles embarcaram no ônibus na Rodoviária de Campos dos Goytacazes, com destino a Niterói, onde chegaram às 14:30. Compraram componentes eletrônicos no centro de Niterói, capas impermeáveis e em seguida passaram em um bar, onde compraram uma garrafa de água mineral magnesiana, não esquecendo de pegar o comprovante do vasilhame, para devolver quando retornassem.

A garçonete que os atendeu no bar disse que Miguel parecia muito nervoso e olhava para o relógio de pulso constantemente. O vigia Raulino de Matos, que trabalhava no local, disse ter visto quando Manoel e Miguel embarcaram em um jipe onde estavam dois outros homens, até hoje não identificados. Segundo o vigia, os quatro trocaram algumas palavras e em seguida o veículo seguiu para a subida do morro. O grupo, no entanto, teria seguido à pé já que não existia na época uma estrada que conduzisse ao alto.

O que aconteceu em seguida permanece desconhecido.

Os corpos de Miguel e Manoel foram avistados na quinta-feira (18), por um rapaz que morava nas proximidades. Ele avisou o guarda Antônio Guerra, que servia na radiopatrulha, porém o policial só foi até lá dois dias depois. É possível que o guarda ou outra pessoa tenha revistado os cadáveres para se apropriar de objetos de valor, mas isso não foi comprovado. No sábado (20), a Segunda Delegacia de Polícia de Niterói recebeu nova denúncia sobre dois corpos, e foram feitos preparativos para ir até lá averiguar

No domingo (19) seguiram ao local de difícil acesso a polícia, bombeiros, jornalistas, além de muitos curiosos, para acompanhar o resgate dos corpos. Encontraram os dois caídos em uma clareira na mata envolvidos por um forte odor. Ao lado deles recuperaram as duas máscaras de chumbo, nos bolsos estavam 161 mil cruzeiros, além de relógios e um cordão de ouro. Nenhum objeto de metal, que segundo o bilhete devia ser "protegido", foi encontrado.

O caso das máscaras de chumbo, Rio de Janeiro 17 de agosto de 1966.
Logo se aventou a hipótese de haver um terceiro personagem na história. O bilhete com as instruções achado no bolso de um dos homens continha uma caligrafia que não pertencia a nenhum dos dois. O sumiço de parte do dinheiro que eles carregavam também indicava que este havia sido entregue a uma terceira pessoa. Além disso, a polícia não encontrou uma faca ou objeto cortante necessário para cortar as folhas de pintomba. A hipótese de um terceira indivíduo sugeria que este teria dirigido a experiência realizada, mas não participado ativamente dela.

As diligências da polícia descobriram no barracão da oficina dos amigos, o molde e o equipamento usado para produzir as curiosas máscaras de chumbo.


Há boatos que os detetives acharam alguns livros estranhos, sobre ocultismo e bruxaria entre as coisas dos amigos.

Logo depois dos jornais anunciarem as duas estranhas mortes, moradores das cercanias do Morro do Vintém, informaram que, na noite do dia 17, entre as 19 e 20 horas, avistaram luzes coloridas circundando o morro. A Sra. Gracinha Barbosa e seus três filhos, que viviam em uma casa à cerca de 800 metros do local, disseram ter visto um objeto ovóide, de cor alaranjada, com um anel de fogo de onde saíam raios azuis em várias direções. Esse objeto flutuava a alguns metros do solo e descrevia círculos ao redor do morro. Outras testemunhas corroboraram essas informações e afirmaram que vários "globos de luz" foram vistos voando baixo. A notícia desencadeou uma série de denúncias à policia de pessoas que também teriam visto os objetos luminosos.

Para técnicos da polícia, as luzes nada mais seriam do que raios, já que na noite em questão caiu uma forte tempestade. Para alguns, os homens teriam morrido em função de uma descarga elétrica fatal. O argumento é válido, por estarem em um lugar alto, portando máscaras de chumbo que atrairiam raios. Os corpos teriam sofrido queimaduras, mas estas não foram observadas na autópsia dado o estado de decomposição. O Instituto Médico Legal e o perito que conduziu a necrópsia Dr. Astor Pereira de Melo negou veementemente essa hipótese.

No decorrer do inquérito, a polícia chegou a um suspeito, Élcio Correia Gomes que foi interrogado pelos detetives responsáveis pela investigação. Segundo a esposa de Miguel, Élcio era uma forte influência e os três "viviam de segredos". Ele teria apresentado aos dois amigos o estudo do ocultismo e os introduziu em estranhas experiências paranormais. Élcio se apresentava como espírita, mas segundo rumores tinha envolvimento com feitiçaria.

Os investigadores ressaltaram que tempos antes, Élcio teria se envolvido em uma espécie de experimento na Praia de Atafona, no interior do RJ, que poderia ou não ter contado com a participação de Miguel e Manoel. A experiência resultou numa explosão que foi motivo de investigação por parte da Marinha Brasileira. Na ocasião, nenhuma prova contra Élcio foi encontrada e ele acabou sendo liberado. Durante depoimento Élcio negou qualquer envolvimento nas mortes e apresentou um álibi sólido que o isentou de participação no ocorrido.

Exatamente um ano depois, os corpos de Manoel e Miguel foram exumados , mesmo sendo feitos testes em São Paulo, para onde foram enviadas amostras de osso, cabelo, pele, roupa, que foram submetidas a campo de bombardeio de nêutrons, nada foi definido. O caso, na esfera policial, ficou insolúvel e foi feito o arquivamento em 1969, por falta de provas.

Teorías

Nenhum ferimento aparente foi encontrado na autópsia, e nenhuma investigação nos órgãos internos foi possível, porque ambos já estavam em um grau avançado de decomposição.

A hipótese é a de que os dois homens teriam consumido drogas psicoativas com a finalidade de entrar em contato com extraterrestres. Eles possivelmente utilizaram as máscaras para se proteger dos fortes raios luminosos que poderiam surgir no esperado encontro. Entretanto, ainda dentro dessa teoria, morreram por overdose de drogas. Algumas pistas dão força a essa hipótese: um dos amigos da dupla afirmou que Miguel Viana e Manoel Cruz faziam parte de um grupo científico-espiritualista.

O Padre Oscar Gonzales Quevedo, professor de parapsicologia, especulou que as máscaras de chumbo teriam sido usadas em uma espécie de teste de ocultismo, para protege-los de radiações luminosas que emanavam de outros mundos. Estas luzes podiam afetar o que chamavam de “terceiro olho”, por isso a necessidade da proteção com as máscaras feitas desse material. Nesse tipo de experiência, os envolvidos devendo estar em jejum para provocar o desequilíbrio físico e mental, precisavam ingerir uma quantidade maciça de drogas psicotrópicas que lhes permitiria entrar em transe. Quevedo explicou que essas pesquisas, conhecidas como psígama e hiperestesia, visavam através de nervos super-excitados ampliar a percepção a aspectos sutis da realidade.

Contato extraterrestre?

Muitos ufólogos acreditam que os homens tinham conhecimento de algum contato extraterrestre e que foram ao local para realização de alguma coisa já planejada. O que se sabe é que os dois eram adeptos da realização de experiências estranhas e perigosas.

Em 1980, o cientista e ufólogo francês Jacques Valleé, veio ao Brasil exclusivamente para pesquisar esse evento misterioso. Valleé considerava possível que os amigos tivessem realizado uma espécie de contato imediato com seres extraterrestres. O pesquisador foi levado até onde os corpos haviam sido encontrados e lá fizeram uma descoberta estarrecedora. O local estava limpo de vegetação, como se tivesse sido demarcado com cal virgem. Amostras do solo revelaram que ele fora calcinado e encontrou-se traços de radiação residual. Valleé considerou o caso como um contato extraterrestre em um de seus livros mais famosos "Confrontations" e deu amplo destaque a ele.

Conclusão

Miguel José Viana, 34 anos, e Manoel Pereira da Cruz, 32, moradores de Campos de Goytacazes, foram encontrados mortos e em avançado estado de decomposição, no dia 22 de agosto de 1966.


A autópsia realizada nos corpos e o exame toxicológico não foram conclusivos sobre a causa das mortes. Contudo, o fato que chama a atenção é que um dos homens saiu de casa, com uma quantia em dinheiro e havia dito à esposa que iria a São Paulo comprar um automóvel. Porém, como os fatos indicam, os dois tinham outro destino: Niterói. Quando foram encontrados, havia somente uma pequena parte do dinheiro junto aos corpos.

As hipóteses de que sofreram um latrocínio muito bem elaborado, ou que foram vítimas de algum tipo de golpe também foram levantadas na época. Há ainda acusações de que a autópsia foi mal conduzida, ou que a real causa da morte teria sido ocultada.

O que a maioria dos envolvidos nas investigações concorda, é que os dois tentaram fazer algum tipo de experiência misteriosa, por vontade própria, que teve um final inesperado e trágico.

As máscaras de chumbo encontram-se atualmente em exposição no Museu da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Fontes
O caso das Máscaras de Chumbo - Portal Vigília
Arquivo UfoBueno, Omar Carline
Solving the Lead Masks of Vintem HillDunning, Brian
Merseyside Unidentified Flying Objects Research GroupMUFORG

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