O naufrágio do Bateau Mouche

Na noite de 31 de dezembro de 1988, 142 pessoas seguiam a bordo do iate de luxo Bateau Mouche IV em busca de uma posição privilegiada para ver o espetáculo de fogos de artifício que atrai milhões de pessoas a cada Réveillon. Com o dobro da capacidade permitida, o barco não conseguiu chegar à posição desejada. Cerca de 10 minutos antes da meia-noite, a embarcação naufragou, no trecho entre a Ilha de Cotunduba e o Morro da Urca, em frente à Praia Vermelha. Das 142 pessoas a bordo, 55 morreram. Além da embarcação estar superlotada, a mesma apresentava uma série de falhas.

O naufrágio do Bateau Mouche, Rio de Janeiro 31 de dezembro de 1988.
Com capacidade para 62 pessoas, o Bateau Mouche partiu em direção ao mar de Copacabana com autorização da Marinha com mais do dobro de pessoas permitido. Posteriormente, um laudo da própria Marinha apontou que o convés superior do barco tinha recebido uma camada de cimento que causava excesso de peso. O relatório indicou ainda que a bomba de esgotamento do navio não estava em boas condições.

História

Durante as comemorações do Ano Novo de 1989, embora estivesse regularizada pelas autoridades competentes e fosse considerada um cartão-postal da cidade do Rio de Janeiro, ao se deslocar para fora da barra da baía de Guanabara para assistir à queima de fogos na praia de Copacabana, deparou-se com ondas pesadas no mar, vindo a adernar. A rápida e acentuada movimentação de carga nos andares superiores causou o naufrágio.

O naufrágio do Bateau Mouche, Rio de Janeiro 31 de dezembro de 1988.
A traineira (embarcação de pesca) Evelyn Maurício tinha partido de Niterói com os pescadores Jorge de Souza, João Batista de Souza Abreu, Marcos Vinícius Lourenço da Silva, Francisco Carlos Alves de Moraes e Jorge Luiz Soares de Souza e as suas respectivas famílias, com destino a Copacabana; no caminho cruzaram com o Bateau Mouche IV, iluminado e muito cheio. Os pescadores presenciaram o naufrágio, e tornaram-se heróis ao jogarem boias, cabos e cordas para salvar cerca de 30 náufragos, que foram retiradas do mar pelos braços.

No inquérito que se seguiu foram apontados diversos responsáveis, entre eles a empresa de turismo, os passageiros que disputavam um lugar a boreste do terraço da embarcação, as autoridades competentes do estado do Rio de Janeiro, e a Capitania dos Portos, dando lugar a um longo processo judicial.

O naufrágio do Bateau Mouche, Rio de Janeiro 31 de dezembro de 1988.
O laudo pericial apontou que o Bateau Mouche IV transportava mais que o dobro da lotação permitida (62 passageiros). Ao todo, nove sócios da empresa responsável pelo Bateau Mouche e outros três funcionários foram indiciados. Outros dez militares também foram acusados por suspeita de suborno. Três sócios estrangeiros que haviam sido condenados no regime semiaberto, não chegaram a cumprir nem um ano da pena, e fugiram para a Espanha. O português Álvaro Pereira da Costa e os espanhóis Avelino Rivera e Faustino Puertas Vidal haviam sido condenados a quatro anos no regime semiaberto por homicídio culposo, sonegação fiscal e formação de quadrilha. Numa das saídas da prisão, não retornaram mais. Como o Brasil não tinha acordo de extradição com a Espanha, ficaram livres e impunes na Europa.

Principais causas do naufrágio:

  1. Excesso de peso (carga) e passageiros;
  2. Posicionamento de duas caixas d'água no teto da embarcação e substituição do piso de madeira original do convés superior por um piso de concreto, elementos que deslocaram o centro de gravidade para cima, ajudando a embarcação a adernar ao ser exposta ao mar revolto;
  3. Os passageiros se deslocaram, simultaneamente, para boreste do "Bateau Mouche";
  4. As escotilhas e vigias não eram estanques e, com o excesso de peso, ficaram abaixo do nível do mar e alagaram os compartimentos inferiores;
  5. As bombas de esgotamento (que jogam a água para fora da embarcação, em caso de alagamento) não funcionavam perfeitamente.

Entre os mortos na tragédia estavam a atriz de TV e teatro Yara Amaral, o dono dos cosméticos Payot, Silvio Grotkowski, e Maria José Teixeira, esposa do ex-ministro do Planejamento Aníbal Teixeira, que sobreviveu ao naufrágio.

Fontes
Há 25 anos, 55 morriam no naufrágio do Bateau Mouche - Terra
Tragédia do Bateau Mouche completa 20 anos e famílias esperam indenização - Folha de S.Paulo
Novidades incluem DVD e "Bateau" - Folha de S.Paulo

Comentários